Enviado por luisnassif, qui, 19/01/2012
Coluna Econômica - 19/01/2012
Um fenômeno pouco analisado é a mudança de guarda no
nordeste, com o fim de velhos coronéis e velhas oligarquias e a entrada
de uma nova geração.
Em alguns momentos, a mudança de guarda permitiu transformações relevantes trazidos pela própria alternância de poder.
No Ceará, em 1986 a vitória de Tasso Jereissatti
permitiu essa alternância. O mesmo ocorreu no Piauí, com a alternância
entre Hugo Napoleão e Wellington Dias, e em Sergipe, com João Alves
rompendo a oligarquia Franco.
No Maranhão houve apenas o hiato de dois anos da gestão
Jackson Lago, derrubado pelo poder político influindo no poder
judiciário. Sem alternância, só restou aos grupos econômicos o
alinhamento com os interesses do grupo político. Houve o atrofiamento do
empreendedorismo.
Agora, a mais longeva dinastia
política do Brasil - os Sarney, do Maranhão - está prestes a se esgotar.
O patriarca José Sarney conseguiu sobreviver a todas as mudanças
políticas do país nas últimas seis décadas. Menos à mais letal: a idade.
Passou dos 80, a cabeça ainda está boa, mas o organismo não, muitas
vezes enfrenta problemas de depressão - próprios da idade. E não tem
sucessor.
A sucessora natural, Roseana Sarney há muito mostrou
ser de fôlego curto, para preservar a dominação dos Sarney sobre o
Maranhão.
O Sarney que emerge nos anos 50, substituindo o velho
coronel Vitorino Freire, trazia um sopro de modernidade e uma utopia
comprada por seus eleitores: a de que, tendo peso político nacional
conseguiria atrair grandes obras para o estado que, por si, promoveriam o
desenvolvimento.
De fato, atravessam o Maranhão seis rodovias federais,
três ferrovias, o estado dispõe dos maiores complexos portuários do
nordeste, energia abundante de dois lados, da Chesf e de Tucuruí. E, ao
mesmo tempo, ostenta os piores indicadores sociais do país.
É o estado com o menor número de policiais por
habitante, de leitores hospitalares, um dos três piores em educação,
saúde, saneamento e qualquer outro indicador de civilização.
Não tem sociedade civil, ao contrário do Ceará, lá não
se desenvolveu o empreendedorismo, porque tudo submetido ao modelo
oligárquico: só prosperavam negócios que interessavam diretamente aos
Sarney.
Hoje em dia, o estado exporta soja in natura, por não
dispor de um processador sequer. Exporta o ferro a Vale e o alumínio da
Alcoa. Não conseguiu atrair uma fábrica sequer de laminado de alumínio,
aço, uma indústria com cadeia produtiva robusta e não verticalizada.
Os arremedos de modernização - como a tal reforma
administrativa de Roseana, decantada em prosa e verso nos anos 90, não
saiu do papel. Não existe um plano de desenvolvimento, anunciaram 72
novos hospitais, não entregaram dez.
No entanto, talvez seja o estado nordestino com maior potencial de desenvolvimento.
Tem uma posição geográfica invejável, na transição da
Amazônia com o nordeste, como ponto próximo à África e Europa, com bom
regime de chuva, bacias hidrográficas perenes, 640 km de litoral e
infraestrutura.
Não tem mão-de-obra especializada porque povo nunca esteve na mira dos Sarney.
Se der sorte, a renovação política permitirá ao estado, finalmente, completar-se.