O grupo político do presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), foi derrotado nas principais cidades do Maranhão e do Amapá,
para onde ele transferiu o domicílio eleitoral na década de 90. Seus
aliados foram derrotados nas capitais dos dois Estados onde ele
construiu sua trajetória política – em São Luís, no Maranhão, e em
Macapá, no Amapá.
Em Macapá, uma frente partidária, que uniu PSOL, DEM e PSDB, derrotou
o atual prefeito, Roberto Góes (PDT), que tinha o apoio de Sarney. Góes
perdeu para Clécio Luís (PSOL), que tinha o apoio do senador Randolfe
Rodrigues (PSOL), por uma diferença de apenas 1% dos votos.
Góes foi preso durante a Operação Mãos Limpas da Polícia Federal, em
2010, e passou dois meses na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Ele
fazia campanha sob uma restrição judicial que o impedia de frequentar
bares e restaurantes à noite e sair do Estado sem autorização de um juiz
– notícia que levou à censura deste blog.
Na capital do Maranhão, São Luís, o candidato da governadora Roseana
Sarney (PMDB) – seu vice-governador, Washington Oliveira (PT) – acabou
em quarto lugar, ficando de fora do segundo turno.
Além disso, Sarney foi derrotado em três, das quatro maiores cidades
maranhenses: Imperatriz, Caxias e Timon. Venceu apenas em São José de
Ribamar, onde reelegeu o prefeito Gil Cutrim (PMDB).
O resultado da eleição no Maranhão mostra que o domínio político da
oligarquia foi mantido basicamente nos pequenos municípios, os chamados
grotões. Das 38 cidades com menos de 10 mil habitantes, os sarneyzistas
comandam 31.
Principal adversário político do clã Sarney no Maranhão, o presidente
da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), foi um dos articuladores da campanha
que levou o deputado federal Edivaldo Hollanda Júnior (PTC) a vencer o
grupo Sarney em São Luís. Hollanda desbancou o prefeito João Castelo
(PSDB), que obteve o apoio informal dos Sarney no segundo turno.
Para Flávio Dino, o quadro eleitoral mostra que o clã Sarney vivencia uma perda de poder.
“Há, de fato, um declínio de um estilo de política, de um modelo
oligárquico e concentrador de poder. Temos agora um jogo menos
previsível, várias forças políticas emergentes, e isso é bastante
saudavel”, afirma.
Para ele, dois fatores levaram à derrota dos Sarney na capital e nas
principais cidades do Estado: um anseio do eleitorado pela renovação do
quadro político e o desgaste de um grupo que se perpetua no poder.
“Há um movimento nacional de pluralização do jogo político, de maior
horizontalidade, que chegou ao Maranhão para ficar. O Sarney conseguiu
durante algum tempo um domínio absoluto e isso implicava a exclusão de
outras possibilidades. A batalha política era programada a partir da
perspectiva deles. Quem será o candidato que vai enfrentar o grupo
Sarney? Era um jogo em que havia uma previsibilidade muito alta, você
sabia mais ou menos o que ia acontecer: o candidato do grupo ia ser a
Roseana ou o (Edison) Lobão (ministro de Minas e Energia), e alguém da
oposição ia tentar enfrentá-los. Durante duas ou três décadas foi
assim”, avalia.
Outra consequência da eleição em São Luís foi a divisão do PT: a
maioria dos militantes ficou com Hollanda, enquanto uma minoria apoiou o
candidato da sigla, o vice-governador de Roseana. Com isso, o PT deverá
seguir dividido no Estado: representantes do grupo que fechou com
Hollanda deverão ter espaço na Prefeitura, enquanto uma minoria ficará
com o grupo Sarney, controlando cargos no governo estadual.
Com esse resultado eleitoral, o grupo de Sarney atravessa um vácuo
político para a disputa ao governo em 2014. Governando o Estado pela
quarta vez, Roseana – que se reelegeu em 2010 – não poderá concorrer
novamente. O nome tido como natural, do ministro de Minas e Energia,
Edison Lobão, começa a ser questionado e Roseana estuda lançar Luís
Fernando Silva, seu secretário da Casa Civil.
Flávio Dino, que perdeu para Roseana no último pleito, é apontado
como pré-candidato ao governo como o nome de oposição ao clã. “Não tenho
receio de negar isso. Há um movimento de renovação no Estado e de
tentativa de superar o mando absoluto do grupo Sarney”.
Por ora, Dino se movimenta com o apoio de uma ampla frente política,
cuja coluna vertebral é a aliança que levou Hollanda ao poder: PCdoB,
PDT, PSB e a dissidência do PT.
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